sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sementes crioulas em prol da sustentabilidade


feijão e arte

Sementes criolas são potencialmente férteis, diferente da maioria das sementes geneticamente modificadas. Me aproximei desta discussão de sementes livres porque na minha cabeça não cabe essa idéia da apropriação da fertilidade das sementes. Chegamos ao cúmulo da ganância e falta de solidariedade. A vida deve germinar em todos os lugares da terra e tentar impedir esse princípio biológico deveria ser considerado crime, na minha opinião. As sementes são propriedade de toda a humanidade.

Participei da Brigada Pedagógica de Colheita do Arroz Quilombola em São Miguel do Pretos, RS, no ano passado e escrevi um texto “Sabor Cultural”


Foi realizada a colheita coletiva, os pratos preparados com o arroz. A relação com os membros da comunidade com os estudantes e membros do movimento foi muito intensa e direta, já que ficaram hospedados, de forma bastante solidária, na casa dos moradores. A potencialização do plantio e beneficiamento do Oryza glaberrima (arroz vermelho, africano, quilombola) é estimulado pela organização da Brigada Pedagógica e pelos parceiros. O arroz que é oriundo da África e foi trazido pelos negros escravos durante o Brasil Colônia, tem altíssimo valor protéico e rico em vitaminas. O sabor é bastante agradável e a cor vibrante chama a atenção. Contudo, segundo os organizadores, “é no aspecto cultural que seu valor é mais ressaltado uma vez que representa um resgate de identidade dos povos afro-descendentes originários da escravidão negra em nosso país.”

colheita coletiva do arroz quilombola rsc


Via Campesina quer transformar área de transgênicos em banco de sementes


Os camponeses da Via Campesina querem transformar o ex-campo de experimento de transgênicos da transnacional de sementes suíça Syngenta Seeds, em um Campo de Pesquisa e Banco de Sementes Criolas. A área está localizada em Santa Tereza do Oeste, na região oeste do Paraná.

“Queremos que esta seja uma terra livre, onde não haja transgênicos e nem veneno, mas sim sementes criolas”, argumenta Celso Barbosa, integrante da coordenação do MST no Paraná.

O campo de experimento de 106 hectares da Syngenta foi ocupado por cerca de 600 camponeses da Via Campesina no dia 14 de outubro deste ano. Atualmente cerca de 100 famílias permanecem no local, chamado acampamento Terra Livre. A transnacional Syngenta, responsável pelos experimentos em grande parte da área contaminada, tinha autorização da CTNBIO (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), para o plantio. A Via Campesina solicitou ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) o embargo das atividades da Syngenta no local, e a aplicação de responsabilidades criminal, civil e administrativa da CTNBio, que autorizou os experimentos em área proibida.

De acordo com a Lei de Biossegurança (nº 11.105/2005), “fica vedado o plantio de sementes de soja geneticamente modificada nas áreas de unidades de conservação e respectivas zonas de amortecimento, nas terras indígenas, nas áreas de proteção de mananciais de água efetiva ou potencialmente utilizáveis para o abastecimento público e nas áreas declaradas como prioritárias para a conservação da biodiversidade”. Já o Instituto da Zona de Amortecimento foi estabelecido por meio da Resolução nº 13/1990 do CONAMA, e consiste numa faixa de 10km nas áreas circundantes da Unidades de Conservação com a finalidade de protegê-las, sendo que as atividades desenvolvidas nesta zona que possam afetar a biodiversidade deverão ser licenciadas pelo órgão ambiental competente com parecer da equipe técnica da respectiva Unidade de Conservação.

No dia 21 de outubro a transnacional foi multada pelo Ibama em R$ 1 milhão por crime grave contra a biossegurança, ao plantar milho e soja transgênicos na zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu. O órgão também entrou no Ministério Público com uma ação civil para destruição dos cultivos. Para o ex-superintendente do Ibama no Paraná, Marino Gonçalves, a empresa agiu contra a Lei de Biossegurança, que proíbe testes com transgênicos em zona de amortecimento de unidades de conservação.

Sementes criolas

A criação do banco de sementes criolas vai beneficiar as famílias acampadas na área, assentadas e pequenos produtores da região, que terão a possibilidade de produzir e trocar sementes de qualidade e sem agrotóxicos. Roberto Baggio, integrante da coordenação nacional do MST, acredita que a área é ideal para cultivar um outro modelo de agricultura, mostrando que existem alternativas ao atual sistema destrutivo. “As sementes são a base da sobrevivência humana e não devem ser consideradas mercadoria”, defende.

Neste momento, o desafio da Via Campesina, juntamente com outros movimentos sociais é trabalhar a importância da agroecologia e fazer o resgate histórico das sementes criolas, para que os agricultores tenham acesso as sementes e não precisem pagar royaltes as empresas. “Este é um espaço simbólico para os camponeses, onde uma empresa estava cometendo um crime ambiental, plantando sementes transgênicas na zona de amortecimento do parque”, denúncia Celso Barbosa.

Denúncia

Os assentamentos localizados nas zonas de amortecimento do Parque Iguaçu estão ilhados entre fazendas com plantações de sojas transgênicas. Desconfiados e preocupados com a possível contaminação de suas próprias lavouras, pequenos agricultores e integrantes da Via Campesina conseguiram a aplicação de testes nas fazendas e detectaram a plantação ilegal de organismos geneticamente modificados (OGMS).

As denúncias foram encaminhadas para a Ong Terra de Direitos, que solicitou providências ao Ibama e Ministério Público. Na operação realizada pelo Ibama no dia 8 de março, das 18 áreas denunciadas, foram encontradas soja e milho transgênico em 14. O experimento ilegal de soja e milho transgênico também foi confirmado por vistoria do Ibama, em cerca de 12 hectares no campo de experimento da Syngenta, á 6 km do Parque Nacional do Iguaçu.

Nova operação

Segundo a chefe da Procuradoria Jurídica do Ibama, Andréia Vulcanis, o processo da Syngenta está em análise. O órgão está negociando com a empresa o pagamento da multa de R$ 1 milhão e fim do plantio de transgênicos na área.

No dia 16 de outubro, a Synrogenta conseguiu na Justiça a reintegração de posse da área, mas segundo o Governador do Estado Roberto Requião (PMDB), a determinação não será cumprida até que o governo federal resolva a questão do cultivo ilegal de soja transgênico pela empresa. “O melhor que o Estado tem a fazer é não conceder a reintegração de posse à empresa até que o governo federal resolva a questão do plantio ilegal”, garantiu.

Em 03 de maio, o Ibama autorizou nova operação para apreensão do que existir ainda de soja geneticamente modificada no campo de experimento, já colhidas em área de quatro hectares, bem como o conjunto de produtos geneticamente modificados armazenados sob o título de germoplasma.

No último dia 19 de outubro o Instituto voltou a área da Syngenta para fazer a apreensão dos cultivos geneticamente modificados. Os fiscais do órgão supervisionaram a colheita de toda soja e milho transgênicos, feita pelos funcionários da multinacional. Tudo foi levado para a Coodetec, empresa de sementes em Cascavel (PR). O Ibama também lacrou banco de germoplasma que havia da empresa, até analisar melhor que tipo de pesquisa era feita no local.

Crimes Ambientais

A empresa de sementes Syngenta é responsável pelo maior caso de contaminação genética comprovado no mundo. Durante quatro anos, a transnacional comercializou de forma criminosa o milho Bt10 nos Estados Unidos, vendido como Bt11, sem autorização. O milho transgênico da transnacional não foi avaliado pelos órgãos reguladores e nem seus efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente. As sementes comercializadas contaminaram o milho exportado para vários países.

Entre os multados também por crime ambiental, está o presidente da Cooperativa de Produtores, Sr. Irineu da Costa Rodrigues. A Terra de Direitos solicitou ao MP que o mesmo fosse representado, por ter sido co-autor de crime ambiental, já que diversos agricultores estariam plantando soja geneticamente modificada. O denunciado alegou o descumprimento da lei por “desconhecimento” da norma que proíbe o plantio de transgênicos nas Zonas de Amortecimento.

Outra empresa de sementes, a Monsanto, também foi multada pelo Ibama em dois campos experimentais no Brasil: um em Rolândia (PR) e outro em Ponta Grossa (PR). Somente nesses dois casos, a dívida da Monsanto em multas ambientais é de R$ 2 milhões.








Práticas agroecológicas : SEMENTES CRIOULAS





resgate-especies-variedades-para-implantacao-agrofloresta

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As sementes crioulas são importantes para a segurança e soberania alimentar dos povos. Porém fora quase abandonadas ao esquecimento diante da substituição pelas sementes híbridas. Os transgênicos são uma ameaça ainda maior às sementes crioulas, contaminando-as com genes de outras espécies ou outros seres. A morte das sementes crioulas e uma ameaça à segurança alimentar, ficando a humanidade à mercê dos interesses de algumas poucas corporações multinacionais.

A serra Acima faz trabalho de resgate seleção e reprodução de sementes junto às famílias nos Bairros. Estas sementes e variedades crioulas são mais resistentes porque estão adaptadas ao ambiente e tem um custo muito baixo.

As famílias de agricultores adotavam a seleção massal, que é a escolha das melhores plantas, frutos, e também os melhores entre os animais. Realizavam também trocas de mudas, sementes ou animais reprodutores. Essas práticas eram uma condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas e raças de animais. Quando um agricultor ou uma agricultora doa uma semente ou faz uma troca percebe-se um sentimento de realização, felicidade e expectativa em ambas as partes. Essa prática é cultural e faz parte da condição do “ser camponês”.

Alicerçada nessas práticas a humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos. E, em apenas pouco mais de 50 anos a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies e raças classificando-as como atrasadas.

Sim, a nova ciência e tecnologia proporcionaram muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e ao negar a pratica acima mencionada criou-se alguns sérios problemas:

  1. Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo.
  2. Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.
  3. Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis à pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas tanto so sistemas naturais como os cultivados.
  4. Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie como nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.

As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo: milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abobora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/ camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.



Feira de troca de sementes e mudas crioula/caipiras de Cunha – SP

Será realizada, em Cunha – SP, no dia 16/11/2010, a 1ª Feira de troca de sementes e mudas crioula/caipiras de Cunha – SP. O evento é iniciativa da SerrAcima, OSCIP, que há 11 anos contribui na construção de propostas para o desenvolvimento rural sustentável, junto às famílias agricultoras de Cunha, através dos processos de formação e implementação de práticas Agroecológicas de produção, geração de renda e recuperação florestal.





Sementes crioulas contra ‘promessas transgênicas’



“É possível descartar os agrotóxicos sem a necessidade de recorrer a sementes geneticamente modificadas”

O belíssimo documentário “Mulheres da Terra”, sobre o trabalho de camponesas de Santa Catarina com a preservação das sementes crioulas, veio a público nas últimas semanas para contrapor a avassaladora cultura das sementes transgênicas. Produzido pela Plural Filmes, o documentário mostra a profunda relação de camponesas com a terra e reforça que é possível descartar os agrotóxicos sem a necessidade de recorrer a sementes geneticamente modificadas.

Com 27 minutos, o documentário mostra a luta de seis camponesas em preservar a tradição e defender um futuro de biodiversidade por meio de sementes crioulas, que são sementes guardadas, reproduzidas e melhoradas milenarmente por comunidades tradicionais. Essas sementes aparecem como uma opção para pequenos agricultores que desejam uma forma de germinar mais resistente, com sementes mais fortes, porque foram escolhidas por meio da seleção natural.

Diferentemente das promessas comerciais que envolvem sementes geneticamente modificadas – que visam menor custo com maior rentabilidade –, as sementes crioulas têm suas raízes na tradição passada de pai para filho, na troca, na agroecologia. Acima de tudo, a cultura das sementes crioulas presa pela diversidade de plantas e cultivos, pelo respeito ao tempo da natureza, pela preservação das espécies nativas.

“(…) O homem pensa na terra em como ganhar dinheiro, forma de lucro, e ele não se dá conta de que, dependendo do que ele está colocando na terra para tirar aquele lucro, ele está matando a terra” – Zenaide T. Milan da Silva, uma das agricultoras do Movimento de Mulheres Camponesas de Santa Catarina, de que trata o documentário.

O documentário é tocante e revela a lógica da real sustentabilidade e a manutenção de uma agricultura sustentável, onde o plantio convive pacificamente com áreas de preservação. Aliás, não só convive, como se auto-complementa. A mata ajuda a preservar as sementes crioulas e sua riqueza genética, enquanto as sementes crioulas preservam a fertilidade do solo e mantêm fortes e vivas as áreas preservadas.

“A transformação, eu tenho certeza, que ela vem através da semente. A semente que a gente resgata, a semente das organizações, a semente das atitudes. Tem que ser pela semente. Nós somos uma semente. Isso não precisa aprender numa faculdade. Isso tem que sentir que está na hora de mudar. É uma transformação mágica” – Lourdes Bodaneze, também camponesa do movimento.

O documentário é a história de mulheres que “cuidam da terra e são cuidadas por ela”, como bem diz o produtor Will Martins, e “a semente crioula aparece como uma tendência para o futuro”. “Essas camponesas não estão fazendo só um plantio, mas estão plantando uma história. A agricultura é um dos empregos mais antigos do mundo, que elas estão projetando para o futuro”, conclui Will.



Cadastro vai mapear uso de sementes criolas

Brasília - Para preservar as chamadas sementes crioulas - de origem natural e que não sofreram alterações genéticas - o Ministério do Desenvolvimento Agrário vai criar um cadastro dos agricultores familiares que usam este tipo de semente em suas lavouras.

As sementes crioulas são derivadas dos cultivos tradicionais, sem a utilização de agrotóxicos ou qualquer outro produto químico. A maior variedade existente desse tipo de semente é de milho e feijão.

No início dos anos 80, um crescente número de grupos de pequenos agricultores do Sul do Brasil abandonou o uso de agrotóxicos, migrando para a produção ecológica de alimentos. Essa mudança criou novamente as condições de solo para o uso de sementes crioulas.

De acordo com o diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura Familiar, Argileu Martins da Silva, o cadastramento vai permitir que as várias espécies de sementes crioulas existentes no país sejam conhecidas.

Ele informou que somente os produtores cadastrados vão ter direito a receber seguro agrícola, no caso de perda da lavoura, e outros benefícios previstos em programas da agricultura familiar desenvolvidos pelo governo.

O cadastramento deverá ser feito até o dia 30 do mês de novembro 2010, na página da Secretaria de Agricultura Familiar na internet: www.seaf.mda.gov.br/seafcaden.

Voçe sabe o que é semente crioula ???


Sementes da Esperança

É muito comum quando ando por aí, colocar a mão no bolso e encontrar algumas sementes. Moro na cidade há muitos anos, mas não perdi essa prática da troca e da disseminação de sementes que herdei da minha história de vivência e convivência junto ao campo.

Sempre que as famílias de agricultores se visitam, uma prática bem presente ainda hoje é a troca de mudas, sementes ou animais reprodutores. Essa prática era uma condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas e raças de animais. Quando um agricultor ou uma agricultora doa uma semente ou faz uma troca percebe-se um sentimento de realização, felicidade e expectativa em ambas as partes. Essa prática é cultural e faz parte da condição do “ser camponês”.

Alicerçada nessas práticas a humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos. Mas, em apenas pouco mais de 50 anos, a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies e raças classificando-as como atrasadas.

Sim, a nova ciência e tecnologia proporcionaram muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e, ao negar a prática acima mencionada, criou-se alguns sérios problemas:

  1. Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo.
  2. Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também porque essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.
  3. Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis a pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas – tanto os sistemas naturais como os cultivados.
  4. Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie, como acontece nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.

As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo: milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abóbora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.

A Rede Ecovida de Agroecologia é um espaço de articulação de agricultores familiares, técnicos e consumidores reunidos em associações, cooperativas e grupos informais que, juntamente com pequenas agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia no Sul do Brasil. Tem como objetivos com o objetivo de:

  • Garantir a identidade popular e transformadora na construção da agroecologia e, responder de forma coletiva e propositiva a desafios concretos, às questões políticas, técnicas e outras, no cenário local, regional, nacional e internacional;
  • Desenvolver e multiplicar as iniciativas em agroecologia;
  • Estimular o trabalho associativo na produção e no consumo de produtos ecológicos;
  • Articular e disponibilizar informações entre as organizações e pessoas;
  • Aproximar, de forma solidária, agricultores e consumidores;
  • Estimular o intercâmbio, o resgate e a valorização do saber popular;
  • Ter uma marca e um selo que expressam o processo, o compromisso e a qualidade.